Crónicas – Do Brasil a Coach de Crossfit no Porto
Depois de uma apresentação sobre a sua tese, o aluno, futuro professor, ouve o grupo de professores responsáveis pela avaliação, que neste momento faz as suas perguntas, cada uma mais detalhada do que a outra, de maneira a descobrir se o trabalho feito foi pensado, ponderado, se exigiu de si aquilo que eles pediam ou pretendiam. Eis que um deles pergunta:
– e você acha que vai mudar o mundo agora com essas suas ideias? Que está tudo errado e vai ser você a mudar isso?
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– Eu posso não mudar o mundo, professor, mas se não tentar fazer diferente eu me asseguro de uma coisa: de não mudar nada. E isso para mim é impensável.
A minha história de vida
Eu me chamo Alex Gomes, sou luso-brasileiro, e nasci em Brasília. Com treze anos de idade fui viver para um país tão diferente do meu que a minha rebeldia não teve pernas para andar. Na Tunísia conheci o que eram as culturas diferentes da minha, como as pessoas são distintas umas das outras, numa idade em que eu só pensava em começar a sair e ir para festas. A família foi aquilo a que pude me agarrar num momento que foi determinante no meu caráter.
Aos dezasseis anos vim para Portugal, aonde criei as minhas próprias raízes. Cheguei a morar em Florianópolis por um curto período de tempo e tive uma passagem relâmpago por Bogotá, na Colômbia, mas a cidade do Porto é aonde eu me senti em casa, mais precisamente em Leça da Palmeira.
Comecei a fazer musculação e a frequentar ginásios em 1997 e até 4 anos atrás era essa a minha realidade no que diz respeito ao desporto e ao fitness. Licenciei-me em Ciências do Desporto e fiz o mestrado de Ensino da Educação Física na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto mas não foi aí aonde aprendi mais, não acho que as faculdades consigam formar bons profissionais por si, pelo menos não da forma como estão a funcionar. Como podem ver pelo relato com o qual eu inicio este texto, eu nunca fui de agradar professores. A professora cooperante do meu estágio em ensino ficava de cabelo em pé nas nossas reuniões, aonde eu explicava aquilo que achava estar mal nos métodos de ensino e nas escolas em geral. Sempre procurei o erro como forma de aprender. Se não arriscar errar, sei que não vou fazer nada de diferente e vou aceitar as coisas como estão.
No ano seguinte ao mestrado, ingressei no mestrado de Filosofia da Educação da Faculdade de Letras, também da Universidade do Porto. Acho que dá para perceber que tinha muitas questões na minha cabeça, e esse ano foi de grande ajuda para mim.
O CrossFit entrou na minha vida através do meu colega de turma André Barbosa (dono do CrossFit CUBO, aonde sou coach), já não estávamos na faculdade. Após o convite para um treino aonde ficou mais do que provado que eu não estava minimamente em forma, comecei a fazer alguns treinos seguindo a metodologia no ginásio aonde eu trabalhava e dentro de um ano, já não fazia mais nada, a não ser aquilo.
Sou agora coach no CrossFit CUBO, aonde cresci imenso enquanto profissional da área de desporto, principalmente por encontrar lá as condições para desenvolver um trabalho autónomo e confiante. Tenho o nível 3 (Certfied CrossFit Trainer) mas nunca fui de ligar à títulos. Não acho que essas referências sejam aquilo que acrescentam valor ao meu trabalho, mas sim aquilo que faço no dia a dia com as pessoas com quem trabalho e com tudo o que envolve a minha atividade. E é simples: preocupo-me genuinamente com os meus atletas.
Não é difícil você se importar com cada um deles. Tem é que ser genuíno e não forçado. Eu chamo todos aqueles que entram para as minhas aulas de atleta, porque é aquilo que são e como os vejo, independentemente do nível de fitness que apresentam na altura. Eu conheço cada um deles pelo nome, conheço as suas marcas, quanto levantam num Snatch, quanto levantam num Back Squat, qual movimento detestam (os wallballs são o terror), que tipo de agachamento possuem. Não decorei nada disso, mas como me preocupo, essas informações entranham-se. Procuro que em todos os treinos possam sair da box melhor do que entraram. E isso não tem preço. O CrossFit para mim tem esse valor: o de dar a possibilidade de ter um significado na vida das pessoas. Quando isso for corrompido e eu não sentir que o meu trabalho é significativo, tiram-me tudo.
Desde que comecei a fazer disso a minha vida, esse tem sido o meu foco. No início deste ano criei o blog Fora da Box, aonde posso partilhar aquilo que faço para além dos limites da comunidade do CUBO. É um trabalho recente, que vai se desenvolver e crescer com o tempo, mas que me permite novas abordagens à modalidade e acrescentar informação aonde acredito haver lacunas ( principalmente na parte da nutrição, aquilo que nos disponibilizam é assustadoramente enganador).
Qualquer que seja a motivação que te leve ao CrossFit, melhorar o teu nível de fitness ou competição, até mesmo uma motivação social, é importante que isso seja uma parte boa da tua vida. Se não te estiveres a divertir, não estás a fazer direito.
Alex Gomes