Entrevista A Inês Sousa Vencedora do No Limits Challenge De 2022

Recentemente estive à conversa com a Inês Sousa, vencedora do No Limits Challenge Gondomar. Não percam a entrevista que se segue e fiquem a conhecer um pouco melhor a Inês.

P.C – Antes de mais obrigado pela tua disponibilidade para termos esta pequena conversa. Para os leitores te ficarem a conhecer um pouco melhor, podes me falar um pouco sobre ti, sobre a tua formação, se praticaste algum desporto antes do CrossFit, etc.

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I.S – Olá Orlando, na pessoa do Planeta Crossfit, e todos os leitores!

Agradecer, antes de mais, o convite para falar um pouco sobre mim e sobre a minha experiência no mundo do Crossfit.

Chamo-me Inês Sousa, tenho 25 anos e sou técnica de exercício físico, Personal Trainer, treinadora e praticante de Crossfit há 6 anos, bem como licenciada em ciências da Nutrição. Durante a minha vida, sempre pratiquei desporto, e fui experimentando modalidades desde a natação ao voleibol nas idades mais jovens, ciclismo e rugby mais recentemente, até encontrar o Crossfit com 18 anos, modalidade essa que pratico até aos dias de hoje e espero continuar a praticar sempre😊.

P.C – Como é que o CrossFit entrou na tua vida?

I.S – O crossfit entrou na minha vida de uma forma bastante natural, quando deixei o voleibol, entrei num ginásio convencional e comecei a fazer musculação e todo o tipo de aulas de grupo que havia disponível, a fim de encontrar alguma que me motivasse. Experimentei, na altura, aula de “cross/funcional” e desde a primeira aula soube que era aquilo que gostava.

Eram aulas com materiais diferentes, nunca tinha usado uma Medball, nunca me tinham ensinado movimentos com barra e já naquela altura, o ir para a aula sem saber o que íamos fazer deixava-me entusiasmada. Assim andei durante uns meses, a malta era porreira, tínhamos sempre o mesmo grupo de alunos, motivava ainda mais! Os próprios professores sentiam-se motivados em dar-nos treino, fizeram sempre o melhor que souberam, e vou aproveitar aqui para lhes fazer um agradecimento muito especial, ao Rúben Leite, ao Marcelo Oliveira, ao Raúl Dias, ao Bernardo, muito gosto tive de treinar com eles e orgulho tenho hoje de lhes poder chamar colegas de profissão.

 Um dia mais tarde surge a oportunidade de irmos fazer o “open” ao Crossfit Vale do Ave em Vila das Aves, ainda hoje me lembro do quanto sofri a fazer o 16.5 com Thrusters e Burpees Over The Bar 😊. Depois do open, fiquei com vontade de me inscrever numa box, imaginar um local onde de manhã à noite se respirava crossfit aliciava-me muito, e eu sabia que poderia aprender mais com pessoas que se especializaram só na metodologia de treino. No centro da minha cidade não havia nenhuma box e eu ainda não tinha carta, pelo que tive de adiar a minha inscrição numa box. A minha família tem uma ligação muito próxima com Vila do Conde, e em agosto costumamos passar férias por esses lados, alegre fiquei eu nesse ano em descobrir que havia uma box “Onesoul Crossfit” relativamente perto da nossa casa e podia lá chegar de bicicleta. Inscrevi-me com a intenção de ficar o mês de agosto, mas rapidamente percebi que não seria o caso 😊 Agosto terminou e em Setembro iniciavam as aulas na faculdade, entre aulas e voltando a viver longe do Onesoul, ainda arranjava 2 vezes na semana para ir treinar lá.

Qualquer furo de horário significava entrar no autocarro ou metro e deslocar-me a Vila do Conde. Nos dias em que não podia ir à box treinar, e já tendo cancelado a inscrição no ginásio convencional, decidi ir adquirindo algum material com algum dinheiro que ia recebendo de forma a poder treinar algumas coisas nos restantes 5 dias na semana. Hoje em dia, posso dizer que tenho um Home Gym, mas demorou bastantes anos a adquirir; ainda me dá imenso jeito para treinar quando estou mais apertada de tempo. Com o avançar do tempo fui percebendo que era nesta vertente do desporto que queria atuar e em Setembro de 2017 tirei o Level 1 Certificate Course da Crossfit.

 Especializei-me no mundo do desporto e comecei a dar aulas muito por incentivo do André Seabra e do Romão Figueiredo, donos do Onesoul Training, a quem tanto devo por hoje estar onde estou. A partir de 2018 iniciei-me na competição em provas nacionais sempre em equipa, sempre foi onde me sentia mais confortável e onde conseguia tirar partido dos meus pontos fortes. Agradecer ao Hélder Moreira, ao Tiago Campos, à Fátima Catarino, à Sandra Casinha por serem os grandes impulsionadores desta minha paixão da competição e terem sempre sido os melhores parceiros que podia pedir, sem dúvida marcamos as provas pelo nosso espírito de entreajuda e diversão. Ao longo dos anos, mas bem mais recentemente, aventurei-me e foquei-me em trabalhar para o individual, mas nem sempre é fácil, dado o tempo, a disposição e todos os fatores envolventes daquilo que é ser um “espécime de atleta”. Hoje em dia exerço funções de treinadora de Crossfit, Personal Trainer e preparação física de atletas a full time e deixo a parte da competição sempre para segundo plano, uma vez que, pelo menos em Portugal atrevo-me a dizer que, com a exceção do futebol (profissional de grandes clubes), ninguém vive do desporto.

P.C – O que é que te apaixona tanto na metodologia?

I.S – A metodologia em si é surpreendente. Em contexto de aula, em 60 minutos, conseguirmos manipular os sistemas energéticos e aplicá-los num indivíduo comum que trabalha as suas 8 horas por dia e vem 1 hora treinar. E assistir o efeito do treino nelas é apaixonante. Outro aspeto, que embora soe a cliché, não pode deixar de ser mencionado, é a questão da comunidade. Para quem possa estar a ler e não esteja enquadrado no mundo do Crossfit quase pode soar a algo fatela e algo que se diz para “ficar bem”, mas é uma característica que nos define e que não pode ser ignorada.

P.C – Faço esta pergunta a todos os meus entrevistados, o CrossFit é mesmo para toda a gente como a metodologia diz?

I.S – Sim, sem dúvida!

Por mais treinos que se possam planear, existe sempre uma forma de os adaptar, estejam as pessoas em que condição física estiverem, sempre com o intuito de manter o objetivo do treino prescrito. Também por este motivo, acredito que é o que apaixona e fideliza as pessoas.

P.C – Nas minha entrevistas tento desmistificar uma ideia, que acho que ainda hoje em dia muita gente tem erradamente, o CrossFit é perigoso como muita gente pensa?

I.S – Perigoso não é. Aliás, perigoso é ficar sentado no sofá e não praticar qualquer atividade e/ou exercício físico.

Podem existir alguns exercícios que, dependendo da forma como são aplicados, podem aumentar o risco de lesão em determinadas pessoas, porém acredito que se tudo for introduzido no tempo certo e com consciência, não existe nada de perigoso na metodologia.

Para além disso, uma coisa é falarmos de saúde e bem-estar, outra é falar de competição. Em contexto de aula, como 90% das pessoas pratica, o objetivo é trabalhar saúde e bem-estar, promover longevidade, prevenção de doenças metabólicas e cardiovasculares, qualidade de vida, em que tudo deve ser adaptado e progredido com muita cautela, individualizando o possível. Quando entramos no ramo da competição, o que muitas vezes (e infelizmente) é o que passa para quem não conhece o CrossFit, nem sempre vemos as melhores execuções dos movimentos, as cargas são sempre para cima de 100 quilos e creio que seja isso que intimida e passa a ideia de que para praticar CrossFit é necessário ser forte, parecer forte e levantar aquelas cargas na primeira aula, o que não é, de todo verdade.

CrossFit e CrossFit Games são universos muito diferentes.

Por isso, para quem tem esta ideia, por favor experimente uma aula e vai muito possivelmente perceber que afinal estava errado 😊

P.C – A marca CrossFit tem sofrido grandes mudanças nos últimos anos, como é do conhecimento geral. Os CrossFit Games são a prova disso, com os novos movimentos que foram introduzidos, entre outras coisas. Como é que vês estas mudanças?

I.S – Gosto de pensar que alguns movimentos, como os double unders cruzados, são movimentos que, de certa forma fazem jus ao lema “Preparing For The Unknown and Unknowable”, uma tarefa simples como saltar à corda, mas muito provavelmente nunca os atletas o teriam testado desta forma, algo que deixa os atletas apreensivos e concentrados para fazerem algo novo em direto e deixa os espectadores também na expectativa.

Movimentos como Handstand Push Ups nas argolas como vimos a sair nos Games há uns anos, já são coisas que em termos de espetáculo até pode parecer bem, mas até em contexto de treino, e agora sim falando em risco de lesão, são movimentos que se calhar podiam ser adaptados. Mas este é um tópico controverso😊 tentarem inovar movimentos, sim, porém, com consciência e efetivamente não esquecer que o objetivo é testar o fitness.

P.C – Vamos falar agora um pouco da nossa realidade, costumas marcar presença em várias competições, venceste o No Limits Chalenge em dupla. O que é achaste da competição comparativamente com outras em que já participaste?

I.S – Foi uma prova muito divertida, dei os parabéns ao Bruno e à organização no dia, mas aqui fica registado mais uma vez. Surpreendeu em vários aspetos, mas um dos principais foi mesmo a duração da prova. No calendário nacional estamos habituados a que as competições tenham a duração de 2 dias (sábado e domingo até tarde); algumas até já começam a aparecer com 3 dias e, embora uma pessoa não se queixe no fim de semana da prova, segunda feira o despertador toca e a realidade chama-nos, há trabalho e vida para gerir que nem sempre fica fácil. O No Limits realizou-se apenas no dia de sábado o que ainda deu para descansar e organizar a vida no domingo e isso diferenciou. Wods bem conseguidos, boa arena e senti que foi uma prova em que muita gente pôde ter o primeiro contacto com a competição.

Eu e a Beatriz França, juntamente com mais de 40 Campers fomos à prova passar mais um dia em comunidade a fazer o que gostamos, viveu-se um bom ambiente e acabou por terminar da melhor forma, com a vitória da prova. Agradecer mais uma vez aqui à Bia, que é uma máquina, e alinhou vir brincar comigo 😊

P.C – O que é que achas que falta, para elevarmos ainda mais o nível das nossas competições?

I.S – Orlando, muito honestamente, creio que vou tocar na ferida de muitas provas, mas também sinto que é algo que muita gente tem receio de falar. Fico triste quando uma prova pede 30 euros de inscrição por pessoa, com centenas de pessoas a inscreverem-se e são anunciados Prize Moneys de 50,100 e 200 euros. Compreendo que organizar provas é algo que exige muita dedicação, mas há anos atrás já assistimos a competições com prize money muito mais alto e as inscrições nem perto do custo das de hoje chegavam.

Um outro aspeto é o calendário de provas não estar feito para toda a gente poder optar por ir a “todas” as provas, por exemplo, este ano de 2023, existem 3 competições no mesmo fim de semana, algo que no meu ponto de vista é negativo para ambas as partes; os atletas tem de optar por uma das provas e as organizações não tem tanta adesão, logo a prova não se torna tão atrativa quanto seria expectável.

De resto, não tenho muito nada a apontar, tenho tido boas experiências nas que frequentei.

P.C – O CrossFit no nosso país tem tido uma boa evolução, já tivemos atletas nos Games, já vamos tendo atletas a competir fora de Portugal com alguma regularidade, e com bons resultados. Na tua opinião, o que é que nos falta para algum dia termos dos melhores atletas do mundo de CrossFit.

I.S – Mais uma pergunta difícil 😊

Honestamente acho bastante difícil termos atletas portugueses entre os melhores do mundo. Atenção, não o digo por não termos qualidade para tal, mas simplesmente porque o nosso país em nada apoia o desporto. Se em modalidades olímpicas com centenas de anos de existência como o Judo, Remo, Atletismo, vemos atletas portugueses quase a implorar por apoios para poderem representar Portugal nas competições mais importantes no mundo do desporto, como haveremos nós de ter apoios para fazermos o mesmo numa modalidade com menos de 2 décadas de existência?

Temos o exemplo dos atletas americanos, que estão em massa nos CrossFit Games e em mais provas, mas esquecemo-nos que a América tem o desporto em grande consideração e em que é possível viver do desporto como profissional. Em Portugal fica difícil sobreviver com um trabalho de escritório dito “normal”, quanto mais tentar viver do desporto profissional num país que em nada valoriza o desporto.

Acredito que teríamos mais portugueses ao lado dos melhores do mundo, se empresas ou o estado assegurassem o bem-estar do atleta e o ordenado, para que se pudesse concentrar a 100% no estilo de vida que um atleta deve ter, sem ter de contar tostões. Ser atleta e ter um trabalho a full time é meio caminho andado para um dos dois falhar. Espero estar enganada quanto a esta minha opinião, mas não acredito muito que, dado o panorama atual da nossa sociedade, algo vá mudar nos próximos anos, o que me entristece, pois, talento sem dúvida não nos falta.

P.C – Para terminar, queres deixar algum conselho ou consideração, lema de vida, o que preferires aos leitores.

I.S – Um dos lemas da minha vida sempre foi fazer e praticar aquilo em que acredito, não ter pressa de atingir nada e aproveitar o caminho. Hoje em dia, como sociedade queremos tudo “para ontem” e feliz e infelizmente as coisas não são assim, no mundo do desporto ainda menos.

Mais uma vez, obrigada pelo convite, Planeta Crossfit!

P.C – Obrigado eu pela disponibilidade para te dares a conhecer um pouco melhor, e falar um pouco sobre esta metodologia que tanto gostamos!

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