Henrique Rocha um Judge por paixão
O Planeta Crossfit este à conversa com o Henrique Rocha, o Henrique é uma pessoa que penso que dispensa apresentações. É Head Judge na Perfect Rep e marca presença em praticamente todas as competições que vão realizando em solo nacional, e também em algumas competições internacionais. Falamos sobre algumas coisas entre elas a sua visão do que é ser Judge. Não perca já a seguir a pequena conversa.
P.C – Fala-nos de ti e como começou o teu percurso de Judge?
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H.R – Sou licenciado em Desporto e Educação Fisica pela FCDEF, na opção alto rendimento – Futebol. Cansado de uma modalidade demasiado “poluída”, encontrei realização profissional no mundo do Fitness. Como muitos, o treino “normal” que se realiza(va) nas salas de musculação, não motivava, e procurei algo mais para outros resultados. O Desporto é uma vivência de emoções, e procurei algo que me permitisse experienciar mais e mais fortes emoções. Comecei a criar dinâmicas diferentes que mais tarde iam ao encontro de desafios que via na internet, entrando assim no mundo do Crossfit/Crosstraining.
Sendo a minha formação académica toda direcionada para o alto rendimento/competição, no Crosstraining não poderia ficar de fora desta sua abordagem que tão fortes emoções nos proporciona. Crossfit/Crosstraining não se finda na competição, porém é uma vertente à qual toda a metodologia deve muito. Eu querendo estar presente no mundo da competição, havia uma decisão a tomar: ou como atleta ou como juiz. Poderia ter ido por atleta, porém não teria o tempo disponível que um atleta deve despender para ter performance. Ao entrar na minha primeira competição como Judge senti muita adrenalina, o espirito da competição está lá e então viciei. Sim, gosto mesmo de ser Judge, não o sou só quando falho apuramento como atleta. Nem tento apuramentos.
Comecei por me voluntariar para (quase todas) as competições nacionais (CrossManzGames; PromofitGames; Battle Coimbra; Face2Face; Community Summer Games, UltimatePowerFtinessGames). Competição após competição criava amizade com Judges que também iam “repetindo” a experiência. Entre estes voluntários, um estava sempre lá. André Simões, sem dúvida o meu grande mentor. Observava-o atentamente e escutava todas as suas abordagens do ajuizar, e de toda a modalidade em geral.
Mais tarde, a convite do André, acompanhei-o a ajuizar no Spanish Throwdown, minha primeira competição internacional, experiência que impulsionou ainda mais a minha paixão seguindo-se o French Throwdown, German Throwdown, tendo pelo meio sido selecionado para ajuizar os Crossfit Meridian Regionals de 2016 e agora também a edição de 2017.
Todas estas experiências deram-me muito conhecimento. Adquiri mais e melhores skills para ajuizar e organizar toda a equipa de juízes. Sinto-me mais capaz para colaborar com as organizações nacionais. Todo o “knowhow” adquirido nestas grandes organizações podem ajudar a elevar o nível nacional, pois os atletas têm evoluído imenso e merecem que os acompanhemos de igual forma.
P.C – É aqui que surge a PERFECT REP?
H.R – Sim, exatamente. Tivemos a necessidade de, como judges, evoluir. Tudo começou comigo e com o André Simões.
Sendo o André Simões o Head Judge em algumas das competições, e eu o judge que mais vezes estava presente para o “servir”, começamos a ter um bom entendimento, onde o auxiliava nas tarefas necessárias. Mais tarde, a convite do Pedro Pereira, fomos os dois team leaders nos Promofit Games onde começamos a desenvolver um trabalho lado a lado.
Tivemos convites para estar presentes em várias provas, e deparamo-nos com o problema ter de recrutar e preparar novos juízes a cada competição. Assim decidimos iniciar um projeto que nos facilitasse esta tarefa, surgindo a Perfect Rep.
Na Perfect Rep procuramos ser uma entidade de referência a quem as organizações podem recorrer para solicitar apoio no ajuizamento. Lutamos por criar melhores condições para os Judges que pertençam à nossa organização e assim mante-los motivados a repetir a tarefa árdua de ajuizar fim-de-semana após fim-de-semana, competição após competição. Assim os judges presentes nas competições não necessitam de aprender tudo de novo, pois já adquiriram experiência. Estabelecemos padrões de ajuizamento e dinâmicas de coordenação que beneficiavam a evolução da tarefa de juiz. Tem sido um trabalho muito desafiante, e que estou muito motivado a continuar a fazer avançar, sobretudo porque me tenho rodeado de pessoas fantásticas. Em Portugal já temos juízes de elevado nível. Comparando, mesmo com judges internacionais, temos judges de elevado nível: Ana Sofia Peixoto, o Rui Santos, o Pedro Diogo Castro, a Andreia Pacheco, a Rute Peixoto, (estes últimos 3 já com participação internacional no Italian Showdown e também chamados para os Crossfit Meridian Regionals) Bernardo Lopes, Catarina Lopes (mais dois nomes que irão estar presentes nos Crossfit Meridian Regionals), o André Gonçalves, a Carla Dias, a Carla Martinho, a Cláudia Oliveira e todos os outros que, mesmo com menos competições no seu historial, já pertencem à “família”. Juntos damos grandes passos e as competições nacionais tem ficado a ganhar. Sentimos que somos uma equipa de verdade. Apoiamos uns aos outros de forma ímpar.
Na Perfect Rep temos vindo a desenvolver um trabalho notório e inédito, ganhando o respeito e apoio da maioria da comunidade, contudo, por momentos repensamos tudo. Temos um surpreendente apoio da maioria dos altetas. É muito gratificante receber os imensos feedbacks positivo ao nosso projeto no final da competição. Porém, não só de boas pessoas a competição é constituída. Se os “euros”, ou outro fator, tornarem o espirito da competição “sujo” como aquele que me fez abandonar outras modalidades não hesitarei em terminar o meu contributo. Eu, e todos os Judges merecemos, acima de tudo, respeito. Das organizações desejamos confiança e preocupação. Erramos e vamos (cada vez menos) continuar a errar. Num ambiente de respeito há tolerância e entendimento. Perdoamos sempre os insultos que o atleta diz por “estar no calor da competição”. Quando erramos, mesmo que seja por o atleta deixar dúvidas na sua performance, que não devia deixar, não pode haver a falta de respeito e agressões verbais e/ou físicas como já se registaram. Assim iremos perder o gosto de continuar a evoluir e investir o nosso tempo a troco de pouco (ou nada). Podem ter a certeza que adoramos o que fazemos e estamos disponíveis para ajudar muito mais.
P.C – Porque ser Judge?
O que é ser judge para ti?
estamos a colaborar com o atleta para que este cumpra os standards e evolua
H.R – Ser Judge não é prescindir de um fim-de-semana do nosso trabalho ou de descanso. Não é apenas estar (normalmente) num pavilhão a receber agressivos comentários por parte de atletas e publico, e quem sabe, até dos organizadores. Esta é a visão de muitos, porém não me enquadro neste panorama.
Assemelho ao papel diário de ser Coach, “estamos a colaborar com o atleta para que este cumpra os standards e evolua”, pensei eu.
O Judge é o maior apoio do atleta. Durante o WOD, seja de que nível for, todos os atletas, por momentos precisam de ajuda no número de repetições ou sequência dos exercícios, etc. O judge é o seu maior apoio para o guiar indicando o exercício a realizar, o número de repetições, identificando e comunicando-lhe quais os standards a cumprir para terem repetições válidas e evitar as “no Rep” que lhe custam tempo. Como Judge procuro ser um apoio ao atleta a ter o melhor score válido. Tento pensar que ao permitir uma repetição menos clara passar estarei a deixar em aberto que ele seja prejudicado mais tarde. Se não aviso que a repetição foi mal executada, deixo o atleta sem possibilidade de compensar o erro..O Judge não tem a função de sentenciar o atleta, mas sim de colaborar com o mesmo para o deixar ter o rendimento para que tanto se preparou. Na sua função garante que não existe vantagem ilegal em relação aos adversários. Os standards são as “leis” que tem de cumprir para que a competição seja justa e vença o melhor, com correta execução dos movimentos testados no WOD.
A par desta relação/comunicação com o atleta, existe a comunicação com o público, onde o Judge também é chave para melhor transmitir ao público a validade da performance do atleta. Deste modo o Judge tem muita influência na qualidade de uma competição. As vitórias são discutidas por pormenores, e um erro de um judge pode comprometer o sucesso de uma preparação completa de um atleta. Se os altetas se sentem lesados, mal ajuizados, não vão repetir essa mesma competição, colocando em causa o porquê de todos os patrocinadores estarem presentes se os atletas não estão lá. Entendo que o desempenho dos judges é importante para o sucesso dos atletas assim como para a fama da competição, positiva e negativamente.
P.C – Planos para futuro?
H.R – A curto prazo estarei presente nos Meridian Regionals 2017, onde estarei acompanhado de mais Judges portugueses, o que é um grande orgulho para a nossa comunidade. Competições internacionais são o meu grande prazer e desejo realizar ainda mais duas ou três este ano. Para já, fui “convocado” para os French Throwdown, por isso, vamos aguardar para ver o que surge.
Enquanto Head Judge da Perfect Rep, os planos passam primeiro por aumentar o número de Judges com experiência e prontos a colaborar, promovendo workshops por todo o país pois cada vez há mais competições.
Penso também em contatar com várias entidades organizadoras e coaches a fim de encontrar o melhor entendimento e uniformidade sobre standards de movimentos tornando mais eficaz a noss preparação. Bill Shanky, referência do futebol Irlandês lamentava que os árbitros no futebol sabem muito de regras, mas pouco do jogo. Nós Judges adoramos este nosso “jogo”. Queremos saber tanto do nosso “jogo” como os atletas. Não faz sentido de outra forma
Acredito que os judges em Portugal se podem tornar mais “profissionais”, não no sentido de remuneração ou carreira, mas profissional na busca insaciável da elevação do nosso estado. Pela constante reflexão e melhoria do detalhe. As competições, os patrocinadores, e principalmente os Atletas merecem um “JUDGE” melhor em Portugal. Será esse melhor Judge capaz de validar o desempenho dos atletas, e assim ajudará o atleta a ter de elevar a sua performance.
Bons treinos e Perfect Reps a todos!
P-C – Obrigado Henrique por partilhares um pouco do teu percurso, e por também nos falares um pouco do que é ser Judge. Continuação do bom trabalho que tens desenvolvido na Perfect Rep.